Do campo ao copo: produção de lúpulo em São Paulo ganha força e conquista cervejarias artesanais

Você já parou pra pensar de onde vem o amargor e o aroma da sua IPA favorita? A resposta pode estar bem mais perto do que você imagina. O lúpulo — planta responsável por grande parte da personalidade de uma boa cerveja — está ganhando cada vez mais espaço no interior de São Paulo, abastecendo cervejarias artesanais e colocando o estado no mapa da produção nacional do ingrediente.

Cidades como Aguaí e Mococa despontam como referências em qualidade e inovação. São Paulo já concentra cerca de 30 produtores ativos e vem se destacando pela possibilidade de fazer mais de uma safra por ano, graças ao uso de tecnologia de iluminação e às condições climáticas favoráveis.

Cerveja com sotaque paulista

O Brasil é um dos únicos lugares do mundo onde se consegue fazer mais de uma safra por ano, porque ele precisa de um fotoperíodo específico, dias cumpridos. E aqui fazemos isso com suplementação luminosa”, explica Murilo Ricci, produtor em Aguaí.

Com alto valor agregado e sem a necessidade de grandes áreas, o cultivo de lúpulo vem sendo abraçado por produtores familiares e pequenas propriedades. O especialista Ricardo Mason, da CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral) de São João da Boa Vista, aponta que o estado tem potencial para se tornar um polo produtor nacional e internacional, principalmente ao atender a demanda crescente das cervejarias independentes.

É o caso do produtor Mário Mancuso, de Mococa, que começou os testes em 2021 e, desde 2023, comercializa para diferentes regiões do país. “Fizemos muitos testes e firmamos parcerias estratégicas com cervejarias artesanais, que foram fundamentais tanto para o desenvolvimento do produto quanto para a divulgação”, afirma. Hoje, sua meta é alcançar o mercado internacional.

Pesquisa, terroir e proteção da lavoura

Com o crescimento da produção, o controle de pragas virou prioridade. O Instituto Biológico, vinculado à Secretaria de Agricultura de SP, realiza pesquisas para identificar e combater viroides e vírus que afetam a planta e comprometem aroma, sabor e rendimento da cerveja.

Os viroides podem causar sintomas como redução do desenvolvimento das plantas, seca dos ponteiros e podridão de raízes, mas também podem afetar a qualidade da cerveja mesmo sem sintomas visíveis”, explica o pesquisador Marcelo Eiras, que lidera estudos financiados pela FAPESP e pelo CNPq para garantir mudas saudáveis e fortalecer a cadeia produtiva.

No fim das contas, esse lúpulo bem cuidado, colhido fresquinho e cheio de sabor pode muito bem ser o responsável pelo amargor perfeito do seu próximo copo. E saber disso só deixa a experiência mais gostosa.

Quer saber mais sobre os bastidores do copo? No Onde Beber, a gente mostra tudo que rola da produção à primeira espuma.

TAGGED:
Compartilhe este artigo